
Como ficam os vinhos envelhecidos no mar
Como ficam os vinhos envelhecidos no mar?
A busca por métodos e processos, sejam eles tradicionais, sejam inovadores, é constante no mundo do vinho. Hoje, os vinhos em ânfora renasceram. Ao mesmo tempo, surgem barricas hiper tecnológicas. Ao longo dos anos, enólogos vêm testando novas técnicas para criar rótulos cada vez mais incomuns. E nessa onda (quase literalmente) aparece uma nova categoria, os vinhos “subaquáticos”. Essa “moda” é relativamente recente. Ao que parece, ela tomou força há cerca de 10 anos, quando uma equipe de mergulhadores no mar Báltico encontrou 168 garrafas de Champagne em um navio naufragado. Entre elas, havia 48 de Veuve Clicquot datadas de 1839 a 1841. Os vinhos foram analisados e percebeu-se que várias garrafas mantiveram boas condições e estavam aptas para consumo. Em um primeiro momento, especialistas disseram ter encontrado aromas não muito agradáveis, contudo, surpreenderam-se com o frescor da bebida depois de tantos anos. Logo em seguida, as garrafas foram leiloadas e algumas alcançaram quase US$ 15 mil. A partir daí, pipocaram produtores que resolveram experimentar o envelhecimento de vinhos debaixo d’água. Acredita-se que, antes desse momento, porém, um dos primeiros produtores a testar o envelhecimento subaquático foi o espanhol Raúl Pérez, em 2003. Na época, ele mergulhou garrafas de Albariño de Rías Baixas no oceano por 60 dias. Diz-se que outro pioneiro, Piero Lugano, da vinícola Bisson, na Ligúria, tentou o método em 2008 por “necessidade”, quando viu que sua adega simplesmente não tinha espaço suficiente para envelhecer os espumantes produzidos. Assim, mergulhou 6.500 garrafas no mar, retirando-as no ano seguinte. Especialistas dizem que o envelhecimento do vinho, especialmente dos espumantes, debaixo d’água, beneficia-se de ótimas condições, pois o oceano oferece um ambiente fresco e pressurizado, além da ausência de luz e relativa falta de oxigênio, e temperaturas baixas e quase constantes. Mas não são apenas os espumantes a, teoricamente, se beneficiarem do ambiente subaquático, brancos, tintos e até Jerez já foram enviados para debaixo d’água. A vinícola norte-americana Mira está entre as líderes da pesquisa dos efeitos do método nos vinhos e o apelidou de “aquaoir” (uma brincadeira com “terroir”). Segundo eles, o vinho mantido debaixo d’água tem um efeito de envelhecimento acelerado. Apesar de os produtores atestarem as diferenças, o método de envelhecimento subaquático ainda está sendo avaliado. A Veuve Clicquot, por exemplo, está realizando experimentos subaquáticos regulares em alguns de seus Champagne. O projeto “Cellar in the Sea” é um experimento de 50 anos para ver como as garrafas envelhecem. Elas foram submersas em 2014 e serão analisadas periodicamente. A escolha do local também parece ser um ponto de cuidado, com a temperatura da água e a profundidade sendo estudadas. De acordo com o FDA (Food and Drug Administration, agência do Departamento de Saúde dos Estados Unidos), “a cada 10 metros de profundidade em que um vinho é envelhecido, os selos de garrafas de vinho são submetidos a uma atmosfera de pressão”, afetando a maneira como o vinho interage com a água do mar ao seu redor.
Para suas experiências, a maioria dos produtores escolhe usar garrafas mantidas em uma gaiola segura debaixo d’água, mas alguns decidiram não filtrar o vinho antes de envelhecer (pois acreditam que o vinho não filtrado pode interagir melhor com o ambiente) ou então selar com tampa de rosca em vez de cortiça.